Enquanto os biocombustíveis compensam suas emissões apenas até certo ponto e os motores elétricos ainda estão engatinhando, o combustível sintético surge como a solução mais prática para agradar gregos e troianos.
Não adianta fugir: nos países mais desenvolvidos, os veículos movidos a gasolina e diesel comum já tem data para morrer, medidas que certamente chegarão a outras partes do mundo cedo ou tarde. Ninguém disse, no entanto, que seus substitutos devem ser obrigatoriamente impulsionados por eletricidade.
O objetivo, como todos sabemos, é zerar as emissões de CO² de todos os meios de transporte. Mas a poluição não é emitida apenas em carros e motos. Estamos falando de caminhões, ônibus, aviões, trens e navios. A migração de todos esses veículos para uma unidade de potência elétrica certamente vai levar mais do que 20 anos.
O combustível 100% sintético (também conhecido como eFuel) não é uma novidade. O trabalho vem sendo desenvolvido já há alguns anos e está ganhando interesse rapidamente, pois eliminam as emissões de CO² sem a necessidade de mudar para uma nova tecnologia.
Com é feito o combustível sintético?
Tudo começa com a hidrólise, processo químico que retira o hidrogênio da água para depois se combinar com o CO². O gás que resulta da combinação é utilizado para produzir hidrocarbonetos, que se tornam combustível líquido, dispensando o uso de petróleo.
Com densidade de potência semelhante à gasolina normal, os combustíveis sintéticos podem funcionar em um motor a combustão atual, dando nova vida a milhões de veículos espalhados pelo mundo em vez de reduzi-los à mera sucata. Também nos dispensa da necessidade de carregar baterias de lítio, removíveis ou não.
O único problema é que, até o momento, a única forma de gerar a grande quantidade de eletricidade necessária para o processo da hidrólise só pode ser atingida – de forma limpa – com energia solar, eólica ou via usinas hidrelétricas. O que encarece bastante o processo na comparação com o combustível refinado a partir do petróleo.
Usar eletricidade para criar gasolina sintética e depois queimar esse combustível em motores de combustão pode parecer um desperdício. Mas os benefícios também são significativos, pois utilizam as mesmas infraestruturas existentes dispensando a necessidade de se criar toda uma nova rede de pontos de recarga.
Já tem muita gente trabalhando nisso

Existem vários projetos em andamento, especialmente na Alemanha. Em 2017, a Bosch anunciou a criação de um combustível 100% sintético. A Porsche, que faz parte do Grupo VW (irmã da Ducati, portanto) está investindo em uma fábrica da Siemens no Chile que usa energia eólica para produzir gasolina sintética. Eles esperam produzir 130.000 litros no próximo ano, 55 milhões em 2024 e 550 milhões de litros em 2026.
Enquanto isso, a BMW investiu US$ 12,5 milhões na startup norte-americana Prometheus Fuels que cria gasolina a partir do ar, da água e da eletricidade em um processo próprio. “Ao aperfeiçoar as reações e processos químicos existentes, a Prometheus produzirá combustíveis de reposição livres de culpa e ajudará a alimentar o poder de escolha“, disseram na ocasião.
A aviação em particular está apoiando a ideia, o que eliminaria a necessidade de se desenvolver uma aeronave 100% elétrica. O automobilismo também entrou em ação: o Mundial de Rally (WRC) vai começar a usar combustível 100% sustentável já no próximo ano. O futuro, sem dúvida, é zero emissões, mas as formas de se chegar lá tendem a ser diversificadas.